Escritos para você

16
Abr 12
Este conto foi escrito pelo meu filho Miguel em 2003, quando ele cursava a turma 41 do Colégio Israelita Brasileiro, na turma da Prof. Márcia Levandowski. Foi um trabalho de produção textual, e cada aluno da turma escreveu um texto, que gerou um livro. Durante esses anos, guardei este livro, que contém todas as assinaturas de seus amigos e colegas da série. Uma lembrança e tanto. Assim, colocando “A casa” no blog, pretendo homenageá-lo, mostrando-lhe que todos temos as nossas lembranças, as nossas histórias, os nossos méritos e que o tempo sempre nos mostra os caminhos seguidos e aqueles a seguir. Deus te abençoe,  meu amado Miguel, e que te tome em Suas Mãos Sagradas.
 
Teu pai,
 
Hilton
 

A casa


Era aquela casa que mais se comentava no bairro. Talvez pelas portas e janelas sempre cerradas, talvez pela imponência da fachada com aquele portão imenso. Só sei que era curioso. Sempre que passava por ali, ficava observando para ver se alguém aparecia ou acontecia alguma coisa. À noite sempre se ouvia uma música suave no bairro. Muitos diziam que vinha do casarão. Mas como poderia? Ninguém entrava nem saía de lá há anos?

Muitas vezes eu perguntava aos meus pais o que poderia ser aquilo, mas eles sempre acabavam discutindo:

- Eu discordo! – dizia meu pai – Esse som não vem de igreja nenhuma!

Minha mãe dizia que aquele som vinha de uma igreja dali de perto, e os dois ficavam discutindo um tempão.

O meu pai era meio bizarro, ele não tava nem aí pro que os outros pensassem dele, não que ele fosse um pé-rapado nem algo assim, pelo que eu percebia, ele era um ótimo marido e um bom pai. A minha mãe é bem cuidadosa, gosta de se maquiar, se arrumar, enfim, tudo que uma mulher gosta de fazer. Os dois se davam muito bem.

Vamos falar um pouco de mim, pois afinal, sou o personagem principal dessa história. Eu tenho dez anos e estou na quarta série, meu nome é Rafael, estou de fárias (aleluia!) e nem quero me lembrar do colégio. Minha mãe diz que eu tenho que estudar, mas eu não “tô nem aí”.

Um dia, eu resolvi entrar naquele casarão de uma vez por todas e acabar logo com este mistério.

Arrumei tudo à tarde sem que meus pais soubessem: o material que eu ia usar era graxa para passar no rosto e me camuflar, um pouco de chocolate caso desse fome; lanterna, um bloco de anotações, pilha para se faltasse na lanterna. Não quis convidar nenhum amigo, pois se ganhasse algo, queria que fosse só meu.

Fui, pulei o muro, pois dava para ouvir a música mais alto, deu pra perceber que era uma ópera. O jardim era muito bonito,  tinha rosas, hortências, violetas, margaridas e muitas outras flores.

Descobri que aquele som vinha de um cantor de  ópera , que todo o dia ele cantava e que tinha um vozeirão.

Mas vocês ainda não sabem como ninguém o via. Né? Não. Que bom, agora eu conto pra vocês. O que acontece é que atrás daquele casarão tinha um super mercado e ninguém sabia que ele morava ali, ele comprava o que precisava e entrava no casarão pela porta dos fundos,por isto ninguém o via.

Rafael não quis dizer isso para polícia , porque estragaria o segredo.

Miguel Besnos

 

publicado por blogdobesnos às 15:47

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pense no simples. por hcerelli

Fonte: http://www.flickr.com/search/?q=boca+sensualidade

 

 

O que tenho para te dar são as minhas mãos, um pouco da minha vitalidade ou o que possa fazer dela. Pertenço a ti, mas, antes, à minha solidão, esta bem mais companheira e acessível do que jamais pensei. Trago em mim os votos de uma não castidade que se confunde com alguns recorrentes traços de perversão; preciso, talvez, converter-me a alguma religião para que, então, possas me associar com algo de metafísico, inerente à condição humana. No mínimo à submissão, o que já é algo mais palatável. No fundo os amores são assim, um tanto de submissão e outro de submeter. Enfim, é deste modo que o amor se estrutura, adicionado com muito de paixão, de desejo e de algo, talvez um perfume de belíssima qualidade mas pouca fixidez, de amor romântico. Meu realismo talvez decrete, em ti, o sentimento de expulsão. Sejamos honestos, quero te provar. Concebido e saciado o desejo, racionalizada a homeostase da carne, satisfeitos nossos precários metabolismos, poderemos, só então, pensar em buscar nossas harmonias conjuntas. De todo modo, me perdoa se te digo assim o que outros não falaram, antes procuraram te enlaçar sobre os dramas, paixões e misérias de um amor de sal, açucar e água. Prefiro ser quem sou, e se a volúpia de ti me vem, não entendo porque não expressá-la. Palavras sagradas, redondas, que se imiscuem, que são retratos mais fiéis do que somos, e que pretendemos esconder com camadas e camadas de comiseração e de uma pudícia que se torna desleal a nós mesmos.

Isso, talvez seja isso: nos acostumamos a pedrar, a consumir, a descartar, a não termos compromissos maiores senão com as nossas próprias vontades. Construímos pontes que dali a pouco se desvanecem, como quadras de sonhos inteiros, mas não nos atemos a perguntar o porquê dos fatos. Apenas estamos ali, em um trem cujas estações desconhecemos. Apreciamos a paisagem, mas igualmente interferimos na mesma, na medida em que a narramos para nossas idiossincrasias e para quem, de dentro, não vê o de fora. Prosseguimos, trocando nossos discursos e identidades com uma facilidade que chega ao constrangimento. Somos pontos, somos deuses de nós mesmos, e por isso as aproximações que fazemos são todas como um arco de coseno. Talvez por tudo isso eu deva ser menos coerente do que querias, do que desejavas. Sou e faço parte da incoerência. E, no entanto, a despeito de tanto, te desejo, como talvez um pouco mais que um tenis Reebok. Sei, me descartarás também, mas tudo ao seu tempo. Te proponho fruirmos agora, para, somente após pagarmos os preços de nossos mútuos abandonos. 

De todo, há ali um seio, uma coxa, um par de pernas, um torso masculino, de todo há ali um balé bonito, de corpos que se fundem, que se confundem, os nossos, e todas as salivas, e suores, e desejos que se misturam como uma boa safra de champanha brut.  Somos agonizantemente belos, e a beleza, talvez nossa maior carta de proposições, nos salva de qualquer depressão, de qualquer amargura ou mesmo do sofrimento. Quando minhas mãos te acarinharem, teu ventre se arqueará como uma sinfonia de Haydn. Somos belos, somos jovens, somos descartáveis. Somos o que somos e somente uma luz de estranha tessitura nos salvará. Luz que é onda, onda que é efeito, miragem é o que apontamos logo ali, enquanto nossas bocas, sedentas, mergulham na escuridão.

 

publicado por blogdobesnos às 04:49

 
 
 
 
 
 
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Fica proibido chorar sem aprender, levantar-te num dia sem saber o que fazer e ter medo de tuas lembranças.

Fica proibido não sorrir pelos problemas, não lutar pelo que queres, ou abandonar tudo por medo, não converter em realidade teus sonhos.

Fica proibido não demonstrar teu amor, fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e por teu mau humor.

Fica proibido deixar de teus amigos, não tentar compreender o que vocês viveram juntos e lhes chamar só quando precisas deles.

Fica proibido não fazer as coisas por ti mesmo, não crer em Deus e fazer teu destino; ter medo da vida e de seus compromissos, não viver cada dia como se fosse um último suspiro.

Fica proibido desejar alguém sem ao menos te alegrar, esquecer de seus olhos, seu riso, tudo porque seus caminhos deixaram de te abraçar, esquecer teu passado e pagar com o teu presente.

Fica proibido não tentar compreender as pessoas, pensar que a vida delas vale mais que a tua, não saber que cada um tem seu caminho e seu destino.

Fica proibido não criar tua história, deixar de agradecer a Deus por tua vida, não ter um momento para as precisam de ti, não compreender que o que a vida te dá, também te toma.

Fica proibido não buscar tua felicidade, não viver tua vida com uma atitude positiva, não pensar que podemos ser melhores, não sentir que… sem ti, este mundo não seria igual.

Pablo Neruda

publicado por blogdobesnos às 04:29

Alô, estou vendo que você ligou para o seu Serviço Pós-Túmulo. Já reconhecemos o seu DNA e você não precisa mais usar seu CPF ou número de cédula de identidade. Já conferimos tudo, sem problemas com seu dinheiro e, assim, você pode escolher o que melhor atender seus desejos.  Para seu maior conforto, anote o número de seu protocolo, caso você necessite se comunicar conosco, o que facilitará imensamente um próximo contato. Muito bem, o seu número de protocolo´foi criado para facilitar o seu atendimento. Ele é zero quatro cinco zero nove oito zero tres zero zero sete nove nove sete sete dois cinco nove oito um três nove zero zero dois sete nove zero oito. Anotou? Se quiser que eu repita, aperte Um. Se quiser me mandar à merda, aperte dois DOIS, muito bem, vejo que você me mandou à merda mas não adianta, eu não vou. Agora, meu querido morto, siga as seguintes instruções. Para o Céu, disque Um, para o Inferno, disque Dois e para o Limbo, disque Três.

UM. Muito bem, vemos que você escolheu o Céu. Se você quiser ingressar no Céu, disque Um, se você quiser apenas passear pelo Céu, disque Dois, se você quiser uma Visita Guiada, disque Três, se você quiser visitar os Santos, disque Quatro, se você quiser saber porque morreu, disque Cinco, se você quiser reclamar do motivo da sua morte, disque Seis, se você quiser visitar os Heróis Bíblicos, disque Sete, se você quiser ir ao Tabernáculo, disque Oito, se você quiser visitar os Túmulos Sagrados, disque Nove, mas se você quiser resussitar, informamos que esse serviço está temporariamente desligado ou fora da área de serviço.

DOIS. Imbecil, você escolheu o Inferno. Se você quiser ingressar no Inferno, disque Um, se você quiser encontrar o demônio, disque Dois, se você quiser visitar a sala das abominações, disque Três, se você quiser ser torturado pela eternidade ou sofrer de nossos crimes sexuais especiais, disque Quatro, se você quiser visitar a sala da ignorãncia, disque Cinco, se você quiser uma Visita Guiada pelos demônios, disque Seis, se você quiser sofrer agonia, depressão ou tristeza infinitas, disque Sete, se você quiser ser aguilhoado. afogado ou sofrer de alucinações, disque Oito, se você quiser reclamar de algum serviço, disque Nove, se você quiser desistir ou visitar outra dependência post mortem, esqueça, tal opção está eternamente desabilitada.

TRES. A indecisão mora aqui. Se você quiser repetindo seus erros constantemente, disque Um, se quiser continuar se drogando até o final dos tempos e sofrendo as consequencias de  seus atos até ser transferido diretamente para a sala do  silêncio, disque Dois, se você quiser continuar vagando eternamente entre as almas, disque Três, se você quiser se afogar em suas dúvidas e pressentimentos, disque Quatro, se você quiser penhorar suas futuras vidas, disque Cinco, se você quiser continuar ignorando os sentimentos de terceiros, vivendo em um mundo de espelhos, disque Seis, se você quiser virar uma ameba, ou um vírus, disque Sete, se você quiser viver em eterna indecisão, disque Oito, se você quiser uma temporada de aclimatação, disque Nove, se você quiser se arrepender sinceramente, este serviço estará interditado.

Hilton Besnos.

publicado por blogdobesnos às 04:20

CON +! Como e quando o mundo terminará

 
 
 
 
 
 
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Pois o mundo terminará exatamente quando a sombra de Ash descer sobre a 14ª quadratura do Círculo Metafísico de Metafisto Mefistófoles, Congregação Panóptica fundada pelo Reverendo So Min Yahng Tsé e situada na Planatura Central do Monte Gólgota, na altura de Corrientes tres  cuatro ocho, segundo piso, ascensor. Lá, somente lá, quando se der a curvatura de Orion Poderoso, virá junto com Ash o início do Perímetro Dourado, cuja soma dos lados será conhecido como DOIS P. A cada um dos lados será atribuída uma lavação geral do planeta, de modo que, quando os eventos passarem, somente restarão os justos, os perfeitos, os que rezam, que oram, que se sacrificam, que creem, que se absolutizam de modo total na Mente de Ash e na observação peniana do Grande Mestre Tsé; somente aos mesmos serão destinados os bens, as benesses, as maravilhas ontológicas e poliformas da Grande Congregação Panóptica.

E assim, quando ocorrer a 14ª Quadratura do Círculo Metafísico de Metafisto Mefistófoles a sombra de Ash, o Cinzeiro Misterioso, serão dados a conhecer todos os lados do Perímetro Dourado, a partir da uncentésima hora após a passagem, o empacotamento, a morte, a queda do Santo Homem, e esses lados serão os que estão pregados no quarto, na sala na hora do almoço, e são:

LADO A – A maldição do Supermercado – Todos os supermercados desaparecerão, e com eles os shopping centers, os mercadinhos, as mercancias, as lojas que vendem I POD, I PAD, TVS a plasma, celulares, brocas, quadros de engenharia, e as comidinhas de consumo imediato, como batatinhas, chocolates, junto com a abominação da Coca Cola e da Pepsi Cola e de todos os seus subprodutos, e tudo isso escafeder-se-á da face da terra, e junto com eles todas as lojas de grandes marcas, como a Vuitton, a D & G, as revistas Marie Claire e todos os demais produtos de consumo e  de voragem, assim como todos os enfeites e confeitos apreciáveis e tudo será tragado pelo Grande Círculo do Consumo, de modo que cada um será o que é e não haverá qualquer maquiagem a disposição no mercado que também irá à breca. Good bye yellow submarine.

LADO B – A maldição do Mercado de Voláteis – O Grande Inferno desaparecerá com os produtos financeiros, com as Bolsas de Valores, de Nova Iorque até São Paulo, de Istambul até o Japão, da Coréia até  Buenos Aires e todo o dinheiro virará pó, e sumirão os fundos de pensão, as garantias imobiliárias, o mercado da bolsa de futuro, as previsões economicas, o Indice Dow Jones, as debentures, os títulos de crédito, a propriedade, as cédulas de crédito industrial e rural, as variações cambiais, as joint ventures, as cisões e as hipotecas, penhores e alienações fiduciárias, e com elas a Organização Muncial do Comércio, as Ligas Camponesas, a micro e a macroeconomia, os cartéis e os carretéis, os títulos negociáveis, as ações ao portador, os fatores de produção, os bens alienáveis, os papéis negociáveis, o valor ouro e tudo o mais se consumirá a partir do que aqui se diz.

LADO C - A maldição da  vaidade – Não mais se encontrarão em qualquer lugar os batons, os sorvetes, as lipoaspirações, os bottox, as academias, os fitness, osphotoshops, as redes sociais de comunicação, o fausto, o luxo produzido pelo exagero; explodirão todas as Ferraris, Bugattis, e todos os carros com alta tecnologia, assim como a própria tecnologia será posta off road, e também desaparecerão as novas formas de produzir o corpo como se ele fosse uma máquina instável mas bela, as sessões exclusivas de qualquer coisa que imaginemos, as imagens virtuais, as besteiras e os gadgets eletrônicos, os restaurantes perdulários, enfim toda e qualquer forma pela qual possa o ser humano mau, bandido, desprovido de intenso apego à Congregação Panóptica, vir a maquilar sua aparencia de verme centrípeto e consumidor de dejetos materais.

LADO D – A maldição da droga – Todos consumirão, para a glória do Reverendo So Min Yahg Tsé todos os haxixes, cigarros, maconhas, marijuanas, pedra, boletas, crack, lsd, cachaça, uísques, e demais alucinógenos porque é chegada a hora de viajar desta prá melhor, hora de deixar o mundo carnal e apegar-se ao mundo do devir. Todos, crianças, homens, mulheres, cachorros, papagaios, lacraias beberão, cheirarão e injetarão o que lhes for provido e lhes der na telha, na vontade e na tesão para que possam assim apressar sua chegada ao Quinto dos Infernos, à Desolação Eterna, onde compartilharão eternamente do desejo refreado.

LADO E – A maldição do sexo – Os seres humanos, e somente eles,  não mais terão relações incestuosas, carnais, advocatícias e sacerdotais. Todos os tarados, proxenetas, prostitutas, miches, produtores de vídeos pornográficos, donos e donas de bordel, de lupanares, os voyeurs, os homossexuais, masculinos e femininos, os heterossexuais masculinos e femininos, os travestis, as ninfetas, todos sofrerão de um desejo, de uma sanha, de uma tesão enlouquecedora, perdida, estranha, mas não terão como concretizar suas vontades porque a maldição do Círculo Metafísico de Metafisto Mefistófoles não permitirá o orgasmo, a carícia que completa, a ereção que sustenta, a masturbação que alivia, e tudo isso viverá na mente de todos, mas a cada vez que quiserem se tocar, acarinhar o outro, cobrí-lo, tocar os seios, as mamas, os mamilos, as zonas erógenas, se lhes virá uma repugnância e um nojo que os levará à exaustão sem nome dos eternamente insatisfeitos.

E  quando enfim, na uncentísima hora após a passagem do Santo Homem, e a sombra de Ash, o Cinzeiro Misterioso, se completar, dar-se-a a aparição do Sumo Príncipe, que virá que eu vi apaixonadamente como Peri, virá que eu vi, incrível e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi, tocando o afoxé Filhos de Gandhi, virá que eu vi.

Somente enão teremos a Vinda do Grande Cão. Tocando e dançando A MACARENA.

publicado por blogdobesnos às 04:08

Tudo já era absolutamente conhecido. Os registros apenas ratificavam o que todos sabiam. No entanto, embora houvesse denúncias suficientes para mover céus e terras, não havia qualquer interesse em fazer com que os céus e/ou as terras se movessem, pois gente demais poderia ser desacomodada, aborrecida, importunada. Imagine, todas afluentes, influentes, com um pedigree inconfundível e com acessos ilimitados poderiam perder dinheiro, outras deixariam para trás prestígio e poder. Tais pessoas fizeram assim, um pacto mental, não escrito e mais do que conveniente de reciprocidade, um pacto comum, invisível, baseado na necessidade mais do que claro da manutenção do que já estava proposto. Enquanto denúncias fossem passíveis de ser acomodadas, procrastinadas, deixadas prá lá, empurradas com a barriga, e os interessados pudessem subornar, cooptar, corromper, chantagear, oferecergadgets para que ninguém fosse prejudicado, haveria um equilíbrio de interesses que, em princípio dava uma certa impressão de instabilidade, mas que o passar do tempo mostrou que, aplicada a logística adequada, tenderia rapidamente à estabilidade. E de tal forma foi se solidificando que erigiu como normal uma situação na qual se requer um muito de favores e um pouco de argumentos. Enfim, havia um sistema em marcha, baseado unicamente na reciprocidade. Os canalhas aprenderam rapidamente como se exerce, na prática, a solidariedade.

 

Claro que alguns detalhes sempre necessitam ser constantemente  ajustados. O maior era a crescente rede que se estabelecia entre aqueles que tinham interesse em preservar o silêncio. Algumas poucas ameaças de delação espoucavam aqui e ali, mas nada que uma cota extra de dinheiro não resolvesse. A imprensa – ora, a imprensa! – também estava adubada com algumas influências que permitiam certos empréstimos de última hora e que eram tratados às gargalhadas nos gabinetes, chamados de hot money e pelo carinho fraterno que inflava verbas publicitárias entre algumas empresas, nacionais ou multinacionais, que viam aí um investimento político de longo prazo. A imagem é tudo, batiam palmas os mass media, enquanto o trem se mantinha nos trilhos. O tempo passava, havia um cheiro de felicidade no ar, com grandes quantias de dinheiro circulando livremente para lá e para cá, sem que ninguém se importasse muito, desde que tais dinheiros não vazassem ou extrapolassem as suas fronteiras estritas, cujos limites eram traçados au gabinet.

 

Um dia um operário foi executado pela polícia, que estava caçando traficantes. No dia seguinte, pessoas indiferentes ao Mercado se reuniram no local onde o proletário morreu, e fizeram uma homenagem. Alguém então subiu num engradado de cerveja e iniciou um discurso de conscientização. Quando a polícia chegou, todos haviam se dispersado. No dia seguinte, como em um planejado stand up, outra manifestação. E outra, um pouco mais além. Até que, de repente, algo começou a ruir. Parecia ser um movimento controlado nas cadências e passos da cidadania nas ruas. Um ideário inteiro parecia regressar de tempos já tão distantes que se custava a crer que alguém, de sã consciência ainda pensasse em libeerdade e apostasse em movimentos e culturas locais. No ponto de ruptura, tais manifestações começaram a ser pautadas pelos jornais, enquanto os mass media passaram  a dizer aos seus inefáveis clientes que seria interessante ligar a imagem institucional do empresariado a uma nova e avassaladora força política que, além de tudo, não poderia mais ser ignorada. A velha prostituta chamada imprensa se encheu de botox e se travestiu de virgem virtuosa a favor das liberdades individuais. Era o que faltava.

 

Assim como as marés, a  (r)evolução, finalmente, começara.

publicado por blogdobesnos às 01:25

14
Abr 12

Bem querer

Crianças brincando a brincadeira de brincar
Relva, planície, nuvem e sol
Remanso, paz, desejo, sentidos, raízes,
Sonhos, poesias quintanares
Iluminadas madrugadas dos mares teus

publicado por blogdobesnos às 16:53

Paranjana, Café Viena, Trianon, 
Estação Paraíso, Cumbuco, Terra do Sol 
Fortaleza, São Paulo, Porto Alegre, 
Caranguejo, Papicu, Canoa Quebrada 
Avenida Paulista, Avenida São João (metrô) 

Caldo de peixe, São Manoel, Aracati, 
Redinha, Santana, Capitão Mostarda, 
Cultura Quintana e Dragão do Mar 
Bibi Ferreira, Marisa Monte, Gullar (Ponte Metálica) 

Salgado Filho, Morada D’Aldeia, Aldeota, Beira Mar, 
Sebastião Salgado, Masp, polpa de fruta, teu olhar 
Cajarosca, Seis Bocas e Jeri, 
Estação Ana Rosa, Bar do Pirata, Kandinsky (sapoti) 

Praia das Fontes, Falésias, Lagoa Azul 
Oliveira Paiva, Iepro, Mel de Caju 
Silvia, Scheilla, Lila, Carlos, Rebecca, Maninho, 
Avenida Ipiranga, Protásio Alves, Buffet de sopa (carne de pitanga) 

Praça do Oliveira, calor, sorvetes de cajá 
Maça, uvinha e melão 
Café da manhã, Praia do Futuro, Iracema, Mazé 
Dona Nenzinha, Vinícius, Caetano e Djavan 

Teus olhos, teu corpo, tua voz  avelã 

publicado por blogdobesnos às 16:41

Águas 

Águas são rios e oceanos,

nuvens e corredeiras.

Também percorro sinuosos caminhos entre margens

(aprisionantes). 

Guardo os peixes e suas escamas,

mas nunca possuí arraias ou jubartes
e agora, breve chuva,

deslizo sobre teu corpo…

publicado por blogdobesnos às 15:56

Estou com a cabeça no mundo, estou vendo quantos quilômetros ainda tem na minha frente até que possa encontrar, entre outras pessoas, aquela que eu amo. Estou rodando há um bom tempo, talvez umas seis horas ou sete, parece que o tempo dilatou de uma tal forma que me tornei apenas um ponto que se move lentamente entre o que fui e o que pretendo ser. O amor me leva, o amor me guia, o amor balança o meu caminho. De quando em quando paro, descanso um pouco, mas sei até onde quero ir, embora não saiba exatamente quando vou chegar. Sou um pixel se movendo lentamente pelo computador, sou um barco meio sem rumo, me guiando pelo sol e pela lua, com um astrolábio que, no mínimo, é imperfeito.

Os ventos que me levam adiante também me obstaculizam o caminho. Eles são assim, muitas vezes contrários ao desejo. Ventos atrapalham, ventos auxiliam, enfim, são apenas naturais.

Eu, não, eu não sou um ser natural, não me sinto assim porque me correm urbanidades pelas veias. Sou absolutamente contraditório. 

Enquanto o vento aponta para uma direção, me comporto como o bombordo de um navio, como uma caliça em meio a uma avenida. Inapropriado, é o que eu sou. Somente o meu amor pode me resgatar, livrar-me de mim mesmo, fazer com que eu me esqueça da minha imagem, das minhas batalhas, das minhas já obtusas memórias.

Desperto em mim mesmo a fuga do meu corpo. Não sou o meu corpo, mais, sou apenas e tão-só desejo, vontade, determinação. Meu amor me guia, mas não apenas; ele me transforma talvez em alguém que eu desconheça na plenitude. O amor me resgata de mim mesmo, me faz crer mais no sol do que na escuridão, mais na justiça que na miséria, mais na luz do que no deserto. Amo o meu amor, o meu amor é minha vida, é tudo o que eu tenho. Sou obscessivo, sou primata, sou intensamente espírito e carne. Comando a mim mesmo dentro de minha loucura e de minha solidão.

Só o amor resgata, só perto dele posso, nem que seja por breves instantes, ser o que realmente penso que sou. Sou uma sombra que caminha infinitamente em torno de meu desejo. Como eu disse, e você sabe, só o amor salva!

publicado por blogdobesnos às 15:54

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