Novembro de 2006
Na cozinha, no meio do horizonte, uma avó tecia caprichosamente a teia do destino, quando seu neto pediu-lhe uma bolacha. Ela então largou a tessitura sobre a mesa da paixão, levantou-se e estendeu-lhe o pedido. O menino sorriu, agradeceu e saiu. Feliz, ela afastou da mesa da paixão o ódio, que fervia em uma taça, preferindo a gelada indiferença; bebeu-a de um gole e retomou seu trabalho, mas agora com uma ruga de preocupação.
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Findo seu serviço, deixou a teia do destino sobre a mesa da paixão e saiu. Quando o menino retornou à cozinha, não vendo sua avó, tentou alcançar, ele próprio, o pote de aventura onde estavam as bolachas. Não conseguiu e, sem querer, acabou derramando um pouco de ódio sobre a teia que jazia sob a mesa. Quando o menino finalmente alcançou as bolachas, o calor do ódio começou a interagir com a mesa da paixão, e os sentidos começaram a ficar totalmente perturbados. Um minuto após o menino sair, o fogo começou lentamente a tomar conta do ambiente.
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Enquanto a avó corria desesperada para tentar salvar sua casa de ilusões, os deuses sorriam para Gaia, que absolutamente não estava interessada naquele draminha de menor categoria. Indiferente, o tempo assistia a tudo, enquanto, autofágicamente, devorava uma de suas infinitas porções.